O reboot de Jumanji e o desejo do reboot de nós mesmos


Eu me lembro muito bem de assistir ao filme Jumanji de 1995 (aquele com o Robin Willians que sempre passava na tevê aberta). Não posso dizer que era meu filme favorito e nem gostava tanto assim da animação da mesma franquia. Zathura, sequência praticamente espiritual, trás uma premissa semelhante. Ambos os filmes mostram crianças se arriscando em um jogo de tabuleiro que afeta o mundo real, sendo que perder significa arriscar a própria vida, além de não ser possível parar de jogar até chegar ao fim do jogo.

Já o reboot, com filmes de 2017 e sua imediata sequência de 2019, trazem uma premissa semelhante, mas mais atualizada. Ao invés de um jogo de tabuleiro, agora trata-se de um video-game. Ao invés do jogo se projetar para o mundo real, são os jogadores que se projetam para o interior do cartucho. E agora, talvez o mais importante e o que eu gostaria de discutir aqui seja o fato de que os jogadores se tornam outras pessoas: os personagens do jogo.

Sem dúvida essa foi uma das mais brilhantes idéias que a produção poderia ter adotado. Eles solucionaram a questão de como colocar excelentes atores vivendo um jogo inicialmente infantil. Dessa maneira, temos as personalidades, os conflitos, as inseguranças de jovens de colégio sendo representados por atores mais velhos e também famosos. Em ambos os filmes é impressionante como eles são versáteis, se comportando de forma completamente distinta conforme qual jogador está no controle de qual personagem.

Mas vamos ao que dá nome ao título desse pequeno texto de opinião: reboot. Em termo financeiros, ambos os filmes foram um sucesso de bilheteria. Até o momento, embora eu não tenha procurado ativamente, não encontrei os terríveis saudosistas nostálgicos que não aceitam o filme como parte da franquia – o que aconteceu com o Ghostbusters de 2016, por exemplo. Mas algo que foi notável para mim foi o apego que os jogadores tiveram com seus personagens no primeiro filme e que se repetiu no seguinte. Depois que vemos o primeiro filme, tudo terminando bem e os jovens afirmando categoricamente que eles não iriam voltar ao jogo nunca mais. Entretanto, ganha espaço o desejo de um reboot novamente, de se tornar aqueles personagens novamente, ganhar uma força idealizada após algum tempo em uma realidade frustrada e cheia de problemas.

Isso acontece eventualmente com todos nós, penso eu. Às vezes está tudo tão ruim que queremos ser outra pessoa. No caso, era o desejo do protagonista de ser The Rock. Por mais que seja um filme voltado para um público jovem, com um tema superficial e recheado de humor, isso pode trazer questionamentos sobre o quanto queremos não ser nós mesmos por um tempo e o quanto arriscamos no processo.

Ambos os filmes são igualmente ótimas comédias e não achei que o de 2019 ficou menos original do que o de 2017. A trilha sonora é excelente e o cenário, seja pelas locações ou pelos efeitos especiais, são excelentes e me lembraram muito uma característica dos filmes de 007 e os antigos Indiana Jones: cenários completamente diferentes, climas, países, pessoas… é uma volta ao mundo partindo da selva africana de Jumanji.

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